quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O primeiro banho

A memória é traiçoeira. Muitas vezes julgamos que podemos contar com ela e, sem percebermos bem como, prega-nos rasteiras.
Sempre vivi tudo intensamente, e o nascimento e vida da Madalena não fogem à regra. Gosto de saborear cada momento como sendo único, pois muitas vezes acaba mesmo por o ser.
Já a contar com as rasteiras que a memória gosta de pregar, tenho vindo a apontar momentos interessantes/importantes/divertidos do crescimento da Madalena. Se calhar nunca vou ler estas notas, mas pode ser que um dia ela ache piada.

Hoje à hora do banho dei por mim a rir às gargalhadas num momento que, se me contassem há 1 ano que iria acontecer, provavelmente me faria fugir.

Eu dou banho à Madalena na nossa casa de banho, sempre achei um desperdício de energia banheiras no quarto, com água para a frente e para trás. 
Enquanto ainda lá cabe, dou-lhe banho numa banheira que encaixo por cima do lavatório, pois assim não só ela tem o espelho grande para se ver como escuso de estar de joelhos ao lado da nossa banheira a cumprir penitência. 

Hoje o processo atrasou um bocadinho e acabei por levá-la para a casa de banho antes de encher a banheira. Já tinha o chuveiro com água quente, era mesmo só pegar nele, pô-lo na banheira e já estava.
O que é que eu não equacionei? Que estava com uma bebé sem fralda ao colo, com barulho de água corrente como música de fundo.
O resultado? Óbvio não é? Xixi por mim abaixo tipo catarata e uma bebé muito contente pelo feito.

E eu ri. Ri muito mesmo. Não só pelo absurdo da situação, como também por me ter lembrado do primeiro banho dela cá em casa. E que banho...

Como já tinha dito a Madalena nasceu de cesariana. A minha recuperação não foi brilhante porque, menos de 12 horas depois de ser operada, decidi começar a correr quarto fora (histórias para outro capítulo) e estranhamente depois sofri bastante com dores.

Chegados a casa eu tinha muita dificuldade em movimentar-me, logo o primeiro banho foi dado, orgulhosamente, pelo pai.
Eu fui para a casa de banho, preparei a água munida de termómetro e assim que a temperatura bateu nos 37 graus dei sinal para o Miguel trazer a Madalena.
Lá vieram os dois, ela enrolada numa toalha. 
Após entrarem na casa de banho o Miguel tira-lhe a toalha e coloca-a ao colo, virada para ele. Antes de se aproximar da banheira pergunta-me:
"Diana, estou-me a sentir quente, ela está a fazer xixi?"
Assim que olhei comecei a ver um mar amarelo acastanhado a escorrer entre os dedos dele é só tive tempo de dizer:
"Miguel!!!! É cocóóóóóóó!!!" antes de ficar a 90 graus, curvada, a rir às gargalhadas enquanto chorava com dores.
O Miguel faz aquilo que seria mais lógico e afasta-a dele. Esqueceu-se foi de uma parte importante: ou bem que estava quieto ou "apontava" para a banheira. Não. Achou por bem começar a andar desenfreado pela casa de banho, espalhando o dito pelo chão, paredes, sanita, bidé e armários. 
Isto acabou comigo sentada no chão em prantos, entre gargalhadas e as dores que estas me causavam, a Madalena impávida e serena e um pai lívido, sem saber bem por onde começava: se dava banho à miúda, ajudava a mulher que se contorcia entre dores e risos ou limpava a casa de banho. 

E foi por causa disto que me ri. Ri muito. Até a Madalena dava gargalhadas sem saber bem porquê.
E dei por mim a pensar: "9 meses...já passaram 9 meses..."

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