Ninguém nos prepara para a intensidade deste amor. Ouvimos as amigas com filhos a falar sobre ele, quando estamos grávidas tentam-nos explicar mas só sabemos o que isto é quando o bebé nasce. Sentimos uma bofetada bem dada de amor que nos deixa atordoadas para o resto da vida e, sem sabermos bem como, esse amor que já achávamos ser impossível de superar aumenta de dia para dia.
Incrível isto não é?
Pois hoje vou deixar um pouco de parte esse manto e falar de uma forma honesta sobre um momento que, ainda hoje, me é sensível de falar: o parto da Madalena.
Falo desta forma porque sei que há mais Mães que passam pelo mesmo e quero que saibam que não estão sozinhas.
O parto não foi, por si, traumático. Não estive 4 dias em trabalho de parto. Ela nasceu super saudável. Eu não tive qualquer tipo de complicação. Mas digo, com toda a convicção, que odiei o parto.
Ao contrário de tantas grávidas que receiam o parto normal (normal e não natural. Sempre o quis em ambiente hospitalar e com todas as drogas a que tinha direito), este sempre foi o meu objectivo.
Informei-me, fiz cursos, fiz um plano de parto e estava mentalizada que seria esse o caminho.
Ora a vida encarregou-se de virar tudo do avesso e, às 37 semanas de gravidez, devido ao tamanho dela e posição foi-me dito que o parto normal seria quase impossível.
Chorei muito. Chorei na ecografia, chorei à frente da obstetra quando ela me disse que achava o mesmo e chorei em casa, desolada e desencantada pois uma cesariana nunca foi sequer opção.
Depois de esgotar as lágrimas decidi agir. Fui-me munir de mais informação, agora com os novos dados que tinha e pus mãos à obra.
Andei dezenas de quilómetros, subi e desci centenas de degraus, fiz agachamentos, fiz exercícios no tapete que podiam fazer com que ela se posicionasse de uma forma mais favorável.
Nada. Continuava tudo igual e ela a ficar maior de dia para dia.
A poucos dias das 40 semanas e já com a Madalena gigante fui à consulta e a minha médica disse que tinha de marcar cesariana, e quanto mais cedo melhor. Voltei a chorar. Falei com o Miguel, que sem a influência hormonal teria uma opinião mais racional e lá marcamos uma data, já depois de fazer as 40 semanas.
Apesar de saber que a possibilidade de entrar em trabalho de parto espontâneo era quase zero ainda insisti esses últimos dias, mas nada.
No dia da cesariana lá fomos para o Hospital. E eu continuava a chorar. O Miguel tentava-me animar a contar piadas mas estava desolada.
Dei entrada, subi para o quarto e lá esperei até ser levada para o bloco.
Como estava num Hospital particular a presença do Miguel na sala nem sequer foi questão, porque para mim nem fazia sentido a Madalena nascer e ele não estar ao meu lado.
Entrei no bloco a chorar, levei a epidural a chorar e pedi para baixarem os panos quando ela nascesse, numa esperança vã de aproximar aquela experiência ao máximo à de um parto natural. Pedi também para, caso fosse possível, ter logo a Madalena no meu colo assim que nascesse.
A Madalena lá nasceu e foi levada pela pediatra pois teve de ser aspirada para respirar, e já só a trouxeram vestida.
Ali estávamos nós, já os 3, eu naturalmente feliz mas não com a felicidade que julgava sentir.
Apesar de eu estar bem e ela também, sentia que tinha falhado. Que tinha falhado tanto quanto mulher como quanto Mãe.
Como se as coisas não tivessem já fugido o suficiente ao meu controlo,12 horas depois de nascer, quando finalmente estávamos sozinhos no quarto e a começar a interiorizar e aproveitar a vida a 3, a Madalena sufocou com líquido amniótico e deixou de respirar (teve de ser aspirada e fazer lavagem gástrica), coisa que acontece com mais frequência em bebés nascidos por cesariana.
Juntamos a este cocktail um hospital com uma equipa de enfermagem que não só me deixou ter imensas dores sem necessidade, como sabia menos de amamentação do que eu sei agora.
Eu sei que as Mães que tiveram partos realmente complicados podem ler este texto e achar que não sei o que digo. Consigo perceber isso, mas esta é a minha experiência e foi assim que me senti e sinto. Falhar num momento tão importante e que nunca se vai repetir é assoberbante e acompanha-nos durante muito tempo.
Agora é voltar a pegar no manto cor de rosa e curtir a filha maravilhosa e incrível que esta experiência me deu ❤️.
Olá, podes dizer qual foi o hospital? Obrigada
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