quarta-feira, 29 de março de 2017

Baby blues e as expectativas irreais da maternidade

A maternidade muda-nos. Muda. Podem dizer que não, que são exactamente a mesma pessoa que eram antes, mas acho isso praticamente impossível.
A umas bate com mais força, outras sentem-na com maior leveza, mas a vida nunca mais é igual.

Para algumas Mães a coisa corre melhor, com gravidezes e partos santos e crianças angelicais que dormem 50 horas seguidas. A outras nem por isso.

Como não tenho outra experiência que não a minha falo-vos dela aqui, pois sei cada vez mais que não estou sozinha e é bom que outras Mães saibam que isto acontece.

Tive uma gravidez santa, não me posso queixar. Uma barriga daqui até à margem sul, mas sem queixas. Não soube o que eram uns pés ou mãos inchados, pouco enjoei e consegui apertar os sapatos sozinha até ao dia em que fui para a maternidade.
Talvez por ter tido uma experiência tão pacata julguei que as coisas seriam sempre assim tão pacíficas. Se calhar até foram, mas eu não consegui lidar bem com elas.

O facto de a Madalena ter nascido de cesariana foi o primeiro embate. Ora então eu, que até plano de parto escrito tinha, não soube o que era uma contracção e tive de agendar um dia para a Madalena nascer? Que absurdo. Como é que escolhemos o dia de nascimento da nossa filha? Logo aí comecei a não lidar bem com isto.

O dia do nascimento foi surreal. Ir para o hospital de mala feita, sabendo que a Madalena iria nascer naquele dia fez-me confusão. O hospital onde ela nasceu também não ajudou, não me senti particularmente apoiada pela equipa de enfermagem e tive dores horríveis, sem necessidade para tal.
Doze horas após o nascimento a Madalena sufocou com líquido amniótico e logo aí senti, pela primeira vez, uma coisa que me passou a perseguir. A culpa.

Ora porque é que ela sufocou? Porque eu não fui capaz de tê-la por parto normal e nasceu cheia de líquido. Assim que isto aconteceu começou a incapacidade de dormir. E se ela sufoca novamente a dormir e não damos por ela? Fazia turnos com o meu marido para estar sempre alguém acordado a ver se estava tudo bem. Assim que começámos a relaxar, já quase 3 semanas pós parto, ela sufoca novamente em casa. Tudo OK, mas passei 2 dias internada com ela em observação. E quem conseguia dormir depois disso? Cheguei a acordá-la variadíssimas vezes a meio da noite, pois a respiração era superficial (normal nos recém nascidos) e eu tinha medo que ela não estivesse a respirar. Só quando ela tinha quase 5 meses fui capaz de a deixar pela primeira vez sozinha no nosso quarto com o monitor (video) e vir para a sala um bocado, pois até lá quando ela ia para a cama eu ia com ela, com medo que alguma coisa acontecesse. Até ao dia de hoje acordo muitas vezes a meio da noite e olho para o monitor para me certificar que ela está a respirar...

Depois veio o colégio. Um horror deixá-la. Chorava ela, chorava eu, mas com o tempo foi acalmando. Até que aos 6 meses, à conta de uma gastroenterite e cistite ficámos outra vez internadas, desta vez uma semana, para ela fazer medicação endovenosa. Mais uma vez a culpa. Porque é que ela ficou doente? Porque eu tive de ir trabalhar e a deixei na escola. Em casa ela nunca apanharia nada disto.

E entre noites muito mal dormidas, sentimento de culpa avassalador e muito cansaço o tempo foi passando. No meio disto tudo já ela tinha um ano e eu via as mães de revista, que 1 mês pós nascimento dos filhos estavam impecáveis, no ginásio com uns abdominais que eu nunca tive, com crianças que pareciam nunca partir um prato e com um ar fresco e maravilhoso, enquanto eu parecia que ainda estava grávida de 5 meses e tinha umas olheiras que nem as melhores bases do mercado conseguiam cobrir.

Foi preciso chegar quase aos 2 anos de vida da Madalena para parar e tentar perceber se toda esta angústia era normal. Sempre achei que sim. Como é que alguém que está há tanto tempo sem dormir e a trabalhar poderia estar de outra forma? Mas não. Não era normal. Era realmente um arrastar sem fim de um baby blues que nunca teve a devida atenção. Se fiz alguma coisa especial? Não. Acho que o simples facto de parar e perceber que alguma coisa estava errada foi o ponto de partida para tentar alcançar alguma normalidade.
Entretanto a Madalena começou a dormir um bocadinho melhor e eu passei de dormir 3/4 horas por noite com interrupções pelo meio para 5/6 horas, às vezes com 4 horas seguidas. E que diferença que isto fez. Num dia muito bom já consegui dormir 6 horas de uma vez.

E porque é que falo nisto?
Porque algumas de nós, Mães, temos dificuldade em assumir que estamos mal. Vamos aguentando, pondo tudo para trás das costas e "alimentamo-nos" dos sorrisos e carinho dos nossos filhos até ao dia em que não aguentamos mais. Achamos que faz parte, e que as coisas são mesmo assim, mas não têm de ser.
Falem com as vossas amigas. Falem com as vossas médicas. Falem.
Não deixem que a tristeza e angústia vos roubem a felicidade incrível da maternidade.
E não se esqueçam. Tudo passa. Menos o amor que sentimos por eles.






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