quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Amamentar ou não, eis a questão

Cada vez mais sabemos sobre as vantagens da amamentação. Qualquer Mãe é bombardeada com estudos e artigos que provam que o leite materno é muito mais do que um simples alimento. E isso é bom, especialmente porque na altura em que nascemos (anos 80 - crianças dos 90, livrem-se de nos chamar de velhas tá?) os bebés marchavam quase todos a suplemento.

Num mundo ideal, todos os bebés deveriam mamar. Eu sei. É o mais fisiológico e saudável, e ainda tem a vantagem de ser de borla e de ser prático, porque o leite está sempre disponível e à temperatura correcta. 
Isto é tudo verdade.
Mas num mundo ideal uma Mãe deveria ter pelo menos um ano de licença de maternidade. Nesse mesmo mundo, tanto médicos quanto enfermeiras seriam qualificados para ajudar na amamentação e não oferecer suplemento à primeira contrariedade. Os bebés deveriam nascer a fazer a pega correcta e a subida do leite não deveria provocar dores e desconforto piores que, muitas vezes, os causados pelo parto. As mastites também deveriam ser excluídas e todas as mães deveriam estar descansadas e serenas para facilitar o processo. Com a pega correcta à nascença não haveria mamilos gretados e desfeitos e a Mãe não teria dor a amamentar.

Naturalmente as coisas não são sempre assim.
Antes de a Madalena nascer li bastante sobre isto, fiz cursos, informei-me e, achei eu, iria amamentar sem problemas, pois isso seria o melhor para a minha filha. 
Tinha relatos de amigas que amamentaram facilmente e assumi que seria isso que nos iria acontecer.
Obviamente que não podia estar mais enganada.

O Hospital onde a Madalena nasceu não poderá ser chamado de "amigo da amamentação". 
Durante o internamento pós parto e apesar de toda a teoria bem estudada, acabei por precisar de ajuda e deparei-me com uma equipa de enfermagem que parecia composta por peças de puzzles diferentes, todas atiradas para a mesma caixa. O que quero dizer com isto? Que a cada enfermeira que pedia ajuda recebia informações diferentes. Eu e o meu marido já nos riamos.
Passo a citar o que eu ouvi.
"Ela já está a mamar há 30 minutos? Isso é demais! Dá 15 minutos no máximo e se quiser mais oferece da outra!"
"Está a dar das duas? Não dê! Nesta fase dê só de uma mas também não a deixe andar aí a usar isso como chucha! Acabou acabou e tira-a dai"
"Só está a dar 15 minutos? Não pode ser! Tem de a deixar ficar o tempo que ela precisar, ela logo decide quando acabou!"
"Já mamou 20 minutos e ainda ai está? Isso é porque não tem leite suficiente! Tem de dar suplemento!"

Qual é o problema disto tudo?
O problema é que, por mais que se leia e estude, o nascimento de um filho é assoberbante e só queremos que ele esteja bem. Assim sendo, se nos dizem que é preciso fazer uma coisa acabamos por ceder, por assumir que o profissional de saúde sabe o que está a dizer e, no caso específico da amamentação, apercebi-me que há muita falta de formação e opiniões que levam a que, facilmente, tudo corra mal.

Isto tudo para dizer o quê?
Para dizer que eu, a pessoa mais convicta do Mundo que a amamentação é que era e que só quem amamenta é que tem juízo, rapidamente comecei a perceber quem não o faz. 
Isto não é pêra doce. 
É óbvio que há pessoas a quem tudo corre bem desde o início e que não perceberão o que estou para aqui a dizer, mas todas que passaram por problemas nesta fase certamente me percebem.

Uma mulher que esteja com dificuldades em amamentar não se sente bem. Está sempre na dúvida. Em vez de estar a curtir o filho e esta nova fase incrível da vida anda obcecada com gramas e percentis. Em vez de aproveitar para descansar quando o bebé dorme anda na net à procura de ajuda, a ver como consegue aumentar a produção do leite (muitas vezes sem necessidade nenhuma) ou a tentar perceber o que está a fazer de errado.

Eu tive a sorte de ser encaminhada por uma amiga para uma CAM que me deu as armas e a confiança necessárias para dar a volta aos problemas que tinha e acabar por amamentar sem dificuldades. Muitas não têm essa sorte. Muitas não sabem sequer que existe essa opção.
Neste processo consegui perceber, aceitar e respeitar as Mães que acabam por deixar a mama e passar para suplemento, seja por que motivo for.
Nenhuma Mãe é mais que outra e apesar de todos os dias se ouvir, de mil fontes diferentes, que amamentar é "o melhor para eles" permitam-me discordar.
O melhor para eles é serem muito amados, acarinhados, mimados e desejados. Isto sim fará deles adultos felizes e realizados.



Para as que possam estar a ter problemas ou dúvidas na amamentação e grávidas (tenham esta informação convosco na maternidade, a fase inicial é muito importante) deixo os contactos de quem vos pode ajudar e orientar.

SOS Amamentação: http://www.vamosdardemamar.org




E não se esqueçam. A dar de mamar ou com biberão somos todas iguais. Somos todas Mães.
E isso é o mais importante.

4 comentários:

  1. Parabéns pelo post! Sou mãe de primeira viagem e estou a amamentar. Confesso que também li muito sobre o assunto e tentei atualizar alguns conhecimentos que já tinha (sou enfermeira mas a minha área nada tem a ver com esta). Felizmente tudo correu pelo melhor. A equipa de enfermagem foi 5 estrelas, e 20 minutos depois de nascer já estava o A. bem agarrado à mama. Fez uma boa pega desde o início e só mesmo a subida do leite me massacrou. Agora mama bem e cresce bem. Mas acredito que se tudo estivesse a correr menos bem, iria recorrer a LA... porque de facto não é apenas dar de mamar. É apreciar, mimar, amar, partilhar e insistir em algo que não estava a funcionar iria privar-nos de muito disso. Por isso louvo este post, pelo testemunho e pela informação partillhada! Parabéns e felicidades.

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  2. Pois a minha experiência foi péssima! Não que eu não quisesse dar de mamar, à semelhança de muitas outras mães li muito e estava decidida a amamentar, mas tudo correu mal. As tais informações contraditórias, que referiu no artigo, o cansaço e a não subida de leite fez com que não desse de mamar ao meu filho. Posso dizer que por isso fui quase tratada como criminosa. Não foi uma decisão minha pura e simplesmente não tive leite, mas trataram-me como ser fosse uma mãe negligente que estivesse a fazer mal ao meu filho propositadamente. De qualquer forma qualquer que seja a decisão que a mãe toma o profissional de saúde deveria respeitar e apoiar. Como Já foi dito o mais importante é que os nossos filhos se sintam amados e desejados, o resto é só o resto...

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  3. Pois a minha experiência foi péssima! Não que eu não quisesse dar de mamar, à semelhança de muitas outras mães li muito e estava decidida a amamentar, mas tudo correu mal. As tais informações contraditórias, que referiu no artigo, o cansaço e a não subida de leite fez com que não desse de mamar ao meu filho. Posso dizer que por isso fui quase tratada como criminosa. Não foi uma decisão minha pura e simplesmente não tive leite, mas trataram-me como ser fosse uma mãe negligente que estivesse a fazer mal ao meu filho propositadamente. De qualquer forma qualquer que seja a decisão que a mãe toma o profissional de saúde deveria respeitar e apoiar. Como Já foi dito o mais importante é que os nossos filhos se sintam amados e desejados, o resto é só o resto...

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  4. Parabéns pelo post! Estou totalmente de acordo! Também tive pouco apoio das enfermeiras, para além de não ter a subida de leite, ter mamilos complicados, etc... Encaminharam-me logo para o LA. Senti-me péssima e tão inútil por não ter leite para a minha filha, por não passar pela experiência de dar mama, por não criar laços nesse processo, por não dar o que é o mais saudável para a minha bebé, ... Tudo ideias pré-concebidas e que rapidamente percebi não terem tanto nexo. As coisas não são tão lineares assim. E sim há quem olhe para mim do género " a mãe que não deu mama e que devia ter tentado mais e mais e mais"... Mas tentar como? Como saber? Como ter alguém a orientar? ... Num mundo ideal, talvez, como refere. Nesta realidade há muitos anseios e expectativas que cedo caiem por terra. O que interessa é o que fazemos por eles a cada dia, cada mês e cada ano que passa. O que interessa é o amor que cultivamos e transmitimos. O que interessa é a segurança que damos e a protecção que criamos. Os laços são nutridos assim, fortalecem-se assim. Que nunca duvidemos de nós enquanto mães se o nossos filhos são o topo do nosso mundo! Isso é que importa! A minha menina tem 7 meses e meio e foi alimentada com LA em exclusivo. É muito saudável, feliz e cheia de vivacidade. Isso é que me importa! Bjs e muitas felicidades

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